Artistas americanos contrários à guerra temem retorno do Macarthismo
A iminência de uma guerra vista pelo governo dos Estados Unidos como uma batalha do bem contra o mal trouxe de volta àquele país o fantasma da censura. Atores de Hollywood estão enfrentando críticas por manifestarem sua oposição a uma guerra contra o Iraque e apelam contra o retrocesso a um dos períodos mais sombrios da História das artes americanas, o Macarthismo. O Macarthismo foi uma era censura nos Estados Unidos que durou de 1950 a 1954. Na época, o mundo vivia a Guerra Fria e, encabeçado pelo senador americano Joseph McCarthy, o país iniciou uma verdadeira caça às bruxas contra o comunismo. A luta do senador contra o comunismo mobilizou parte significativa da opinião pública americana e justificou uma série de perseguições a artistas, comunicadores e políticos. O sindicato americano de atores do cinema e da televisão, o Screen Actors Guild (SAG), denunciou uma onda de mensagens de ódio recebidas por atores que se declararam publicamente contra a guerra. Além disso, a organização recebeu pedidos de boicote de filmes e álbuns divulgados nas rádios nacionais e na Internet. Em comunicado a imprensa A SAG repudiou a idéia da volta da “lista negra” em que pessoas conhecidas que expressavam pontos de vista eram punidas, perdendo seu direito ao trabalho. Segundo a organização, essa atitude relembra o Comitê de Atividades Antiamericanas do Congresso, dos anos 1950, dirigido pelo senador Joseph McCarthy. A volta da Lista negra A reedição da "lista negra" deixou o cinema de cabelo em pé. Entre os artistas que se manifestaram contra a guerra estão: o diretor Oliver Stone, os atores Sean Penn, Susan Sarandon, Martin Sheen, Penélope Cruz, Edward Norton, Alec Baldwin e Mike Farrell, entre outros. O ator Martin Sheen, que faz o fictício presidente dos Estados Unidos Josiah Bartlet no seriado "The West Wing", vem sendo alvo de críticas acirradas desde que se tornou o principal porta-voz da coalizão artística americana contrária à guerra. Em entrevista concedida esta semana ao jornal "Los Angeles Times", Sheen disse que já chegou a ser pedida sua demissão do seriado e que executivos da NBC já expressaram o temor de que isso possa prejudicar a audiência do programa. A cantora canadense Sheryl Crow também revelou que houve "orientação" na festa de entrega do Grammy para que os artistas não fizessem menção à iminente guerra entre Estados Unidos e Iraque. Ela teve de tirar uma inscrição de sua guitarra para entrar em cena. Já o ator americano Sean Penn, que recentemente esteve em Bagdá, em visita a um hospital para crianças, entrou com um processo acusando o produtor Steve Bing de ter suspenso um contrato para um futuro filme chamado Why Men Shouldn´t Marry, pelo qual receberia US$ 10 milhões. A razão, segundo Penn, é sua oposição à guerra. Bing nega e decidiu entrar com uma ação contra o ator. No período da Guerra Fria, pós-45, quando se intensificou a disputa entre a URSS e os EUA pela hegemonia mundial, surgiu nos Estados Unidos o fantasma do comunismo. O medo da "ameaça vermelha" mobilizou a sociedade americanaO então senador Joseph McCarthy (1908-1957) criou um movimento que se caracterizou pela perseguição a pessoas suspeitas de serem simpatizantes do Partido Comunista. Conhecido como "caça às bruxas", o macarthismo atingiu, principalmente, os meios intelectuais e artísticos Criou-se uma lista negra, que deixou sem trabalho centenas de roteiristas, diretores e atores nos anos 50. Os suspeitos tinham seus nomes colocados numa lista negra. Acusados de praticar atividades antiamericanas,eram convocados a prestar depoimentos na Comissão de Assuntos Antiamericanos. Cercado de câmeras, em audiências públicas, o indiciado era obrigado a retratar-se perante a nação. Milhares de americanos foram vítimas do Macarthismo, entre eles Charles Chaplin, que se exilou. Do lado anticomunista, John Wayne, Walt Disney e Ronald Reagan foram colaboradores ilustres da comissão. Os efeitos do Macarthismo foram sentidos até a década de 60, arruinando carreiras e forçando muitos atores e roteiristas ao exílio. Para sobreviver, alguns roteiristas passaram a assinar seus trabalhos com pseudônimos. O Macarthismo inspirou inquisições anti-comunistas no mundo todo e influenciou as ditaduras latino-americanas nas décadas de 60 e 70. Para saber mais sobre o Macarthismo, vale a pena assistir o filme “Cine Majestic” com Jim Carrie. O filme conta a história de um roteirista americano que é acusado de ser comunista na época do Macarthismo a acaba sendo perseguido pelo Governo e perdendo tudo.
Naquela época mais de 320 pessoas, incluindo o dramaturgo Arthur Miller, os cineastas Orson Welles e Charles Chaplin, o escritor Dashiell Hammett e o músico Paul Robeson tiveram seus nomes incluídos numa lista negra de pessoas impedidas de trabalhar na indústria do entretenimento, em função de pontos de vista considerados de esquerda ou pouco patrióticos.
Macarthismo – a era da caça às bruxas