Grupo sanguíneo único é descoberto
Em uma descoberta inédita, cientistas franceses do Instituto Francês do Sangue anunciaram a identificação de um novo tipo sanguíneo, batizado de Gwada negativo, cuja portadora é uma francesa originária da ilha de Guadalupe.
Em 2011 ela já havia sido identificada como portadora de um “anticorpo desconhecido”, mas na época não havia tecnologia disponível para identificação esse anticorpo. Com a evolução da técnica de sequenciação de DNA de altíssima velocidade, os cientistas retomaram o estudo que identificou uma mutação genética responsável por esse anticorpo.
Hoje essa mulher é a única pessoa no mundo cujo sangue é compatível com o dela mesma, mas os pesquisadores estão buscando outros portadores em Guadalupe, onde essa mulher nasceu.
O grupo sanguíneo é herdado de ambos os pais, cada um dos quais era portador do gene mutado. Os irmãos da mulher também portam apenas um alelo e por isso não têm esse tipo sanguíneo raro, mas ela herdou os dois alelos e assim o novo grupo se manifestou.
Até o momento, os tipos sanguíneos mais conhecidos e utilizados no cotidiano médico pertencem ao sistema ABO (A, B, AB e O) e ao fator Rh (positivo ou negativo). Esses sistemas determinam se uma pessoa pode doar ou receber sangue de outra sem riscos de reações imunológicas graves. Por exemplo, uma pessoa do tipo O negativo é considerada doadora universal, enquanto o AB positivo é o receptor universal. No entanto, existem mais de 30 sistemas reconhecidos internacionalmente, como o Kell, Duffy, Kidd e MNS, ER, entre outros, que também influenciam a compatibilidade sanguínea - especialmente em situações mais específicas, como transfusões múltiplas ou transplantes.
A importância da descoberta de novos tipos sanguíneos é imensa, porque ela melhora a segurança das transfusões, especialmente para pacientes que necessitam de transfusões frequentes, como os que sofrem de doenças hematológicas crônicas, como a anemia falciforme ou talassemia. O conhecimento de novos grupos permite uma triagem mais precisa de doadores e receptores, reduzindo drasticamente o risco de reações transfusionais fatais.
Além disso, a identificação de novos grupos pode ajudar a explicar casos misteriosos de perda fetal recorrente, nos quais mães produzem anticorpos contra o sangue de seus bebês - um fenômeno até então inexplicável em certos casos mesmo com compatibilidade ABO e Rh. Isso sugere que a triagem pré-natal poderá ser expandida, oferecendo maior segurança para gestações de risco.
Outro impacto significativo está na área da genética e da antropologia. A descoberta de novos tipos pode fornecer pistas sobre a evolução humana, migrações e populações isoladas. É possível que um tipo sanguíneo seja mais prevalente em certas regiões geográficas ou grupos étnicos específicos, o que poderá abrir novos caminhos para pesquisas sobre diversidade genética e doenças hereditárias.
Portanto, a descoberta do novo tipo sanguíneo não apenas amplia o entendimento científico sobre os sistemas de classificação do sangue, como também pode salvar vidas, garantir maior segurança médica e trazer respostas a enigmas clínicos antes insolúveis. Isso reforça a necessidade de contínuo investimento em pesquisa, sobretudo na área da imunogenética, um campo tão vital quanto ainda parcialmente inexplorado.