Não é só comida que engorda
A obesidade é uma condição complexa e multifatorial, com muitos fatores contribuindo para seu desenvolvimento. Quem luta contra a balança sabe disso e são inúmeros os relatos de pessoas que dizem não entender o motivo de engordarem mesmo fazendo uma dieta com restrições alimentares e orientada por nutricionistas.
Hoje a ciência se debruça sobre as chamadas substâncias obesogênicas, que podem contribuir para o desenvolvimento da obesidade. Essas substâncias são conhecidas por afetar o equilíbrio energético do corpo, o metabolismo e o armazenamento de gordura, muitas vezes levando ao ganho de peso.
As substâncias obesogênicas podem ser encontradas em diversos lugares, incluindo alimentos processados, produtos químicos industriais, pesticidas, ftalatos (comuns em plásticos), disruptores endócrinos e outros compostos presentes no ambiente. Alguns exemplos incluem:
Bisfenol A (BPA): Encontrado em plásticos, revestimentos de alimentos enlatados e recibos térmicos. Estudos em animais sugerem que o BPA pode interferir no sistema endócrino e contribuir para o ganho de peso.
Ftalatos: Usados em plásticos, produtos de cuidados pessoais e fragrâncias. Também foram associados a efeitos adversos no metabolismo e ganho de peso.
Perfluorocarbonetos (PFCs): Encontrados em alguns revestimentos de utensílios de cozinha antiaderentes e em materiais à prova d'água. Estudos sugerem uma possível ligação entre a exposição a PFCs e o aumento da obesidade.
Pesticidas: Alguns pesticidas, como os organofosforados, foram associados ao ganho de peso.
Como agem as substâncias obesogênicas
As substâncias obesogênicas podem afetar o peso de várias maneiras, muitas das quais envolvem interferência nos sistemas hormonais e metabólicos do corpo e na regulação de gordura.
A relação entre substâncias obesogênicas e ganho de peso ainda está sendo estudada, e a ciência continua a explorar essas conexões, mas já há descobertas concretas sobre como isso ocorre. Veja algumas maneiras pelas quais essas substâncias podem contribuir para o aumento do peso:
Disrupção endócrina: Muitas substâncias obesogênicas atuam como disruptores endócrinos, interferindo nos sistemas hormonais do corpo. Isso pode afetar a regulação do apetite, o metabolismo da glicose e a acumulação de gordura.
Mudanças na regulação do apetite: Algumas substâncias obesogênicas podem influenciar os sinais hormonais que regulam o apetite, levando a desequilíbrios na ingestão de alimentos e contribuindo para o ganho de peso.
Aumento do armazenamento de gordura: Substâncias como ftalatos e PFCs foram associadas ao aumento do armazenamento de gordura no corpo. Isso pode resultar em um aumento da massa gorda e contribuir para a obesidade.
Alterações na microbiota intestinal: Alguns compostos obesogênicos podem afetar a composição da microbiota intestinal, que desempenha um papel importante na regulação do peso. Mudanças na microbiota podem influenciar a eficiência na extração de energia dos alimentos. O uso excessivo de antibióticos, especialmente em animais de criação, pode influenciar a microbiota intestinal, potencialmente afetando o peso corporal.
Influência no metabolismo: Substâncias como pesticidas e compostos encontrados em plásticos podem interferir no metabolismo, levando a uma maior propensão ao ganho de peso.
Efeitos epigenéticos: Algumas substâncias obesogênicas podem alterar a expressão gênica relacionada ao metabolismo e ao peso corporal.
A pesquisa sobre substâncias obesogênicas ainda está em andamento, e a compreensão completa de como esses compostos afetam o peso corporal está longe de ser conclusiva. No entanto, a ideia é que a exposição a certas substâncias pode contribuir para o aumento da obesidade, especialmente quando combinada com fatores como dieta não saudável e falta de atividade física. Além disso, os efeitos dessas substâncias podem depender da quantidade, duração e momento da exposição, bem como de fatores genéticos e individuais.