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Canal do Panamá: uma disputa comercial e política

24/01/2025
Obra de engenharia é peça-chave no tabuleiro geopolítico


Em um dos seus discursos após ser eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump ameaçou retomar à força o Canal do Panamá, alegando razões de ordem comercial, por conta de tarifas que julga exorbitantes para as embarcações americanas e também de ordem política, afirmando que está convicto de que soldados da China estariam operando, de forma ilegal, o Canal.

Essa última afirmação foi imediatamente desmentida pelas autoridades panamenhas e chinesa, mas os olhares do mundo se voltam para essa notável e estratégica obra de engenharia.

Localizado na América Central, ele é um canal artificial que conecta o Oceano Atlântico ao Pacífico, permitindo que navios atravessem o istmo do Panamá sem a necessidade de contornar o extremo sul da América do Sul, pelo Cabo Horn. Essa rota reduz significativamente o tempo e os custos das viagens marítimas internacionais, tornando-se um eixo vital para o comércio global.

A construção do canal foi um marco histórico e tecnológico. A ideia de criar essa ligação surgiu no século XVI, mas só começou a ganhar forma em 1881, quando os franceses iniciaram as obras sob a liderança de Ferdinand de Lesseps, o mesmo engenheiro responsável pelo Canal de Suez. No entanto, dificuldades técnicas, doenças como malária e febre amarela, além de problemas financeiros, levaram ao fracasso do projeto francês. Posteriormente, os Estados Unidos assumiram a empreitada em 1904, após negociações que resultaram na independência do Panamá da Colômbia. O canal foi concluído e inaugurado em 1914, após uma década de trabalho e inovações tecnológicas 

O Canal do Panamá funciona por meio de um sistema de eclusas, que permite que navios de diversos tamanhos sejam elevados e rebaixados para superar a diferença de altitude entre os oceanos. O trajeto de cerca de 82 quilômetros é percorrido, em média, em 8 a 10 horas. Em 2016, o canal passou por uma expansão significativa, com a criação de um novo conjunto de eclusas, permitindo o trânsito de embarcações maiores, conhecidas como Neo-Panamax.

Geopoliticamente, o Canal do Panamá desempenha um papel fundamental, como uma rota essencial para o comércio entre a Ásia, as Américas e a Europa, facilitando a exportação de produtos como petróleo, grãos e mercadorias manufaturadas. Além disso, sua localização estratégica faz do Panamá um ponto de interesse global, com influência direta nas economias de muitos países. Desde 1999, o controle do canal foi transferido dos Estados Unidos para o governo panamenho, reforçando a soberania do país e sua posição como um ator-chave no comércio marítimo mundial.

Hoje o Canal responde por cerca de 5% do volume do comércio marítimo mundial, e é administrado pela Autoridade do Canal do Panamá, uma entidade do governo panamenho.

Acordos firmados anteriormente entre os Estados Unidos e o Panamá estabelecem que o canal é uma zona neutra, mas reservam aos Estados Unidos o direito de intervir caso haja alguma ameaça à neutralidade do canal.

Com base nesses acordos Trump apresentou a narrativa da operação chinesa no Canal. Não há evidências disso, mas a presença da China no local é significativa, sendo o segundo maior usuário do Canal, atrás apenas dos Estados Unidos. Além disso, nos últimos anos o país asiático realizou investimentos de peso em portos e terminais próximos ao canal.

Em resumo, o Canal do Panamá não é apenas uma maravilha da engenharia, mas também uma peça fundamental no tabuleiro geopolítico mundial, conectando economias, reduzindo distâncias e moldando o comércio global ao longo de mais de um século.

 

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