Biodiversidade nacional em estudo
O Brasil é reconhecido mundialmente por sua imensa riqueza biológica, abrigando cerca de 20% de toda a biodiversidade do planeta. Temos identificadas 117.096 espécies animais e o maior número de primatas e anfíbios em todo o mundo. E 17% das espécies de plantas existentes no Brasil são endêmicas, ou seja, só nascem em solo brasileiro.
Por isso, conhecer, entender e preservar essa diversidade é um enorme desafio científico e tecnológico. Foi nesse contexto que foi criado o Consórcio Genômica da Biodiversidade Brasileira (GBB), uma iniciativa liderada pelo Instituto Chico Mendes com o objetivo de sequenciar, mapear e compreender geneticamente a biodiversidade brasileira.
O GBB foi concebido como uma resposta à crescente necessidade de acelerar o conhecimento sobre os genomas de espécies brasileiras, tanto animais quanto vegetais, microbianas e fungos. A proposta do consórcio vai além da simples catalogação: busca gerar conhecimento que possa ser utilizado para conservação, desenvolvimento de biotecnologias, agricultura sustentável, medicina, indústria e mitigação das mudanças climáticas.
Esta semana o Consórcio apresentou os primeiros resultados do trabalho iniciado há dois anos, com o sequenciamento genético completo de 23 espécies, dentre as quais o peixe-boi, a ararajuba, e o macaco-caiara. Além disso há sequenciamentos em diferentes níveis de resolução de mais 413 espécies.
Um genoma completo é o conjunto total de DNA de um organismo, incluindo todos os seus genes e as sequências não codificantes. Quando cientistas dizem que sequenciaram o genoma completo de uma espécie, significa que eles conseguiram mapear toda a sequência de nucleotídeos que compõem o DNA daquele organismo, desde o primeiro até o último cromossomo.
Isso permite entender melhor a biologia, evolução e adaptação da espécie, facilita pesquisas em saúde, agricultura, conservação ambiental e biotecnologia e serve de base para comparar com outros genomas, identificando genes responsáveis por doenças, resistência, crescimento, entre outros.
No caso da biodiversidade, conhecer os genomas completos ajuda a desenvolver estratégias de preservação, manejo sustentável e aproveitamento bioeconômico.
Sequenciar um genoma completo é um desafio, especialmente em espécies com genomas grandes, cheios de sequências repetitivas ou pouco estudadas. Por isso, muitas vezes os primeiros genomas publicados de uma espécie são chamados de genomas de referência, e vão sendo aperfeiçoados com o tempo até serem realmente completos.
O trabalho desenvolvido reconhece e valoriza o conhecimento das comunidades indígenas, que há gerações interagem com a biodiversidade e além da conservação, a tem impacto direto na bioeconomia. O acesso aos dados genômicos permite, por exemplo, desenvolver novos medicamentos a partir de compostos naturais, melhorar cultivares agrícolas, otimizar processos industriais baseados em enzimas e até criar soluções para controle biológico de pragas e doenças.
Em meio às discussões globais sobre mudanças climáticas e perda acelerada da biodiversidade, esse trabalho se apresenta como uma ferramenta essencial para que o Brasil cumpra suas metas de desenvolvimento sustentável e conservação, com a integração entre ciência, tecnologia, inovação e preservação ambiental.