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A destruição de símbolos como forma de protesto x preservação do patrimônio histórico

Por Debora Rodrigues
Protestos ganharam força e fizeram circular a ideia materializada no slogan “Vidas Negras Importam"
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Uma onda de protestos tomou conta dos EUA após o dia 25 de maio, quando um vídeo mostrou um cidadão negro sendo morto por um policial branco em Mineápolis. George Floyd estava imobilizado com um joelho de policial em seu pescoço, sendo asfixiado e ignorado em seus protestos, inclusive, pelos outros policiais que participavam da operação.

 

 

 

Claramente associada a um ato racista, a ação dos policiais envolvidos gerou revoltas, que fizeram reviver as discussões sobre o tratamento diferenciado que é dispensado a pessoas negras por parte das autoridades públicas.

 

 

 

Os protestos ganharam força e fizeram circular a ideia materializada no slogan “Vidas Negras Importam”. Entre manifestações mais contundentes e manifestações mais “pacíficas”, as reivindicações se espalharam por cidades ao redor do mundo, ganharam a adesão de personalidades do esporte, das artes, da mídia… e como todo movimento de grandes proporções ganharam  contornos menos imediatos e mais diversos, agregando às manifestações uma série de outras questões que se relacionam de uma forma ou outra ao ocorrido.

 

 

 

Como o racismo manifesto na abordagem policial de Mineápolis não foi um caso isolado, os contornos que se desenharam às manifestações remeteram aos aspectos históricos do racismo e ao entendimento de que não basta se combater ou criticar uma ação específica, mas que é preciso pensar na formação de uma sociedade que se estabeleceu sobre bases segregacionistas e fortemente racistas.

 

 

 

Dentro do entendimento de que a morte de Floyd é mais uma etapa da construção histórica de um modo de vida fortemente marcado pelo racismo, manifestantes voltaram suas atenções para os símbolos remanescentes da construção deste passado e, especialmente nos Estados Unidos e na Europa atacaram os monumentos de glorificação de tal passado, estátuas e  nomes de rua que glorificam personagens que ajudaram a construir uma história de violência racial que criou os alicerces do atual racismo estrutural.

 

 

 

Assim, várias estátuas de Cristóvão Colombo foram atacadas na América Central e do Norte, nos Estados Unidos monumentos a líderes confederados foram alvo de questionamentos, por terem uma associação direta à tentativa da manutenção da escravidão naquele país. Na Bélgica, a Estátua do Rei Leopoldo II, responsável direto pela ocupação colonial da região do Congo, uma das mais brutais e genocidas práticas colonialistas e outros monumentos a eles ligados foram alvo dos manifestantes. Na Inglaterra, manifestantes retiraram e jogaram no rio, a estátua de Edward Colston, um conhecido traficantes de escravos. O mesmo ocorreu na Suíça, onde na pequena cidade de Neuchatel, onde a população local se voltou contra a estátua do comerciante David de Pury, apresentado no monumento, como benfeitor e comerciante, mas na verdade financiador do tráfico atlântico de escravos.

 

 

 

Essas ações nos remetem ao entendimento de que a memória histórica é um espaço essencialmente conflituoso, pois os ícones celebrados do passado são fundamentais para entender o presente, mas são os critérios do presente que fazem os julgamentos das ações do passado. Então, quando um grupo de manifestantes retira uma estátua, ele está dando um recado simbólico, dizendo que a sociedade não aceita mais as ideias que tratavam aqueles indivíduos como heróis..

 

 

 

Do ponto de vista histórico, as manifestações contra monumentos trazem uma polêmica, pois monumentos são também registros das ações humanas e fundamentais para o entendimento dos períodos históricos. A derrubada de um monumento representa um prejuízo para o entendimento dos personagens e de seus respectivos períodos, bem como a retirada de estátuas limita a possibilidade da construção do espaço público, como um espaço de debate e aprendizado. E há ainda a se considerar que se trata de dano ao patrimônio público.

 

 

 

Paradoxalmente, movimentos espontâneos que negam a legitimidade das ideias retratadas nos monumentos são também um interessantíssimo objeto para o entendimento da história, pois demonstram claramente um conflito de ideias dentro de uma sociedade em transformação.

 

 

 

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