Estamos acostumados a ver com frequência notícias sobre doenças que afetam a população brasileira: hipertensão, câncer, diabete, doenças causadas por vírus, como dengue, Zika e Chikungunya recebem grande atenção da mídia e das autoridades de saúde, preocupadas em divulgar formas de prevenção e tratamento.

Entretanto, há diversas doenças pouco divulgadas, que afetam mais de 28 milhões de brasileiros, ou seja, 14% da população. Boletim epidemiológico publicado pelo Ministério da Saúde alerta que parte dessas doenças é causada por falta de saneamento básico, acesso à água potável. O Censo de 2022 registrou que quase 24% da população brasileira ainda vive em locais insalubres, sem descarte adequado de esgoto, sem coleta de lixo, sem abastecimento de água adequado.

Doenças negligenciadas
Esse é o pano de fundo ideal para a proliferação dessas doenças que afetam maciçamente pessoas em vulnerabilidade social e de certa forma negligenciadas. A maioria delas é causada por vermes, protozoários, bactérias ou vírus.

Dentre essas doenças, destacam-se a leishmaniose, a doença de Chagas, a esquistossomose, a hanseníase, o tracoma, a filariose linfática e a oncocercose, além dos acidentes com cobras.

Leishmaniose - Doença parasitária transmitida pela picada de insetos flebótomos infectados. Existem duas formas principais da doença: a leishmaniose cutânea, que provoca feridas na pele, e a leishmaniose visceral, também conhecida como calazar, que ataca órgãos internos como fígado e baço, causando febre, perda de peso e anemia e pode ser fatal se não tratada. Regiões do Norte e Nordeste do Brasil são especialmente afetadas.

Doença de Chagas - Transmitida pelo barbeiro, um inseto encontrado principalmente em áreas rurais, a Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Na fase crônica, a doença pode levar a complicações cardíacas e digestivas graves. Estima-se que milhões de brasileiros convivem com a Doença de Chagas sem saber.

Esquistossomose - Também conhecida como barriga d'água, é causada por vermes parasitas do gênero Schistosoma e adquirida pelo contato com água contaminada por caramujos que abrigam as larvas do verme. Os sintomas incluem dor abdominal, diarreia e, em casos graves, danos ao fígado e ao intestino. A região Nordeste do Brasil é a mais afetada.

Hanseníase - Também conhecida como lepra, é uma doença infecciosa crônica causada pela bactéria Mycobacterium leprae. Afeta principalmente a pele, os nervos periféricos, o trato respiratório superior e os olhos e tem um histórico de estigma social significativo devido à sua capacidade de causar deformidades físicas se não tratada adequadamente. O Brasil é o segundo país do mundo com mais casos. 

Tracoma - Doença infecciosa ocular causada pela bactéria Chlamydia trachomatis, é a principal causa infecciosa de cegueira evitável no mundo. O tracoma é transmitido através do contato direto com as secreções oculares e nasais de pessoas infectadas, especialmente crianças, que são as principais reservatórias da infecção.

Febre amarela silvestre - Embora a febre amarela urbana seja mais conhecida, a forma silvestre da doença também representa um risco significativo. Transmitida por mosquitos que vivem em áreas florestais, a febre amarela silvestre pode causar febre alta, icterícia e hemorragias. A vacinação é a principal forma de prevenção, mas surtos ainda ocorrem em regiões amazônicas e áreas de mata atlântica.

Malária - Comum na região amazônica, a malária é transmitida por mosquitos infectados pelo parasita Plasmodium e pode ser fatal se não tratada adequadamente, mas é prevenível com o uso de mosquiteiros e repelentes, além de tratamento precoce.

Acidente ofídico – Trata-se de mordida de uma serpente venenosa e os efeitos subsequentes dessa mordida no organismo humano. Este tipo de acidente é uma emergência médica que requer atenção imediata para minimizar danos graves ou fatais. No Brasil, os acidentes ofídicos são um problema de saúde pública, especialmente em áreas rurais e florestais, onde as pessoas estão mais expostas a serpentes venenosas, como jararaca, jaracuçu, cascavel, coral, surucucu e outras.

Medidas de prevenção e controle
Essas doenças pouco conhecidas e negligenciadas, associadas à desigualdade social, representam um desafio significativo para a saúde pública no Brasil. 

O governo brasileiro lançou em fevereiro de 2024 o programa Brasil Saudável, que planeja eliminar ou reduzir o impacto de doenças determinadas socialmente, isto é, doenças que afetam mais ou somente pessoas em áreas de maior vulnerabilidade.

O Brasil Saudável visa erradicar até 2030 doenças como malária, Chagas, tracoma, filariose, esquistossomose, oncocercose e algumas verminoses intestinais, e tem também metas para reduzir os casos de tuberculose, HIV, hanseníase e hepatites virais.