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  • História
  • O Exército Republicano Irlandês (IRA)

Introdução


Uma das questões que mais preocupam no mundo é o terrorismo. Atos terroristas, que geram grandes tragédias de proporções grandiosas, infelizmente são cada vez mais frequentes nos noticiários atuais. A facilidade de comunicação no mundo globalizado amplia estas ações, como a do crescimento de adeptos ao Estado Islâmico.

Eles, entretanto, não são uma novidade na História. Sempre estiveram presentes e envolvendo uma série de questões muito complexas, que entrelaçaram religiões, política, questões sociais ou puramente criminosas. Grupos sociais, movimentos e até mesmo Estados de direita ou de esquerda recorreram (e ainda recorrem) ao terrorismo como pressão para atingirem a determinados objetivos.

O conceito, controverso, ainda é impreciso e gera muita polêmica, pois mudou ao longo da história, sobretudo a partir da Segunda Guerra Mundial e da criação da ONU. Entre as décadas de 1960 e 1970, o terrorismo era entendido como parte de um contexto revolucionário e o uso da violência era geralmente aceito em função da autodeterminação dos povos (movimentos anticoloniais). Foi, entretanto, condenado fora deste contexto ou por grupos unidos por ideologia e organizações radicais nacionalistas e étnico-separatistas.

Um dos vários movimentos que utilizaram o terrorismo como estratégia de luta foi o IRA (em inglês: Irish Republican Army), o Exército Republicano Irlandês, que existe desde 1919, e cuja atuação já causou a morte de milhares de pessoas. Declararam-se oficialmente extintos no ano de 2005, em um processomediado pela Comissão Internacional de desarmamento. Veja, ao lado, a capa da edição de janeiro de 1972 da Revista Times, então uma das mais importantes publicações do mundo. Neste número, a Times denuncia as táticas terroristas utilizadas pelo IRA, na Irlanda.

Capa da Revista Times de janeiro de 1972

A Irlanda dividida


Embora a questão do IRA seja contemporânea, tendo o grupo se formado no século XX, podemos entender suas raízes num passado já bem distante, no século XII, na Idade Média, quando a Inglaterra começa a sua política de conquista sobre o território irlandês.

O objetivo de Henrique II, então rei da Inglaterra, era aumentar seu poderio, tanto econômico como territorial. Assim, em 1175, através do Tratado de Windsor, a Irlanda passa a se submeter às leis inglesas e, na prática, a ficar sob o domínio dos ingleses.

Em 1534, o rei Henrique VIII cria a Igreja Anglicana, no contexto da Reforma Protestante. Começam assim, os conflitos entre católicos e protestantes, que atravessaram a Inglaterra durante séculos.

Para os irlandeses, manter o catolicismo significava não somente protestar contra o domínio inglês, mas também uma maneira de preservar a sua própria tradição. As condições de miséria e fome pelas quais passava a Irlanda eram, então, associadas à Inglaterra. A partir do século XVII, várias rebeliões aconteceram, em diferentes partes da ilha, reivindicando a liberdade e a independência. As rebeliões foram violentamente reprimidas pela coroa inglesa.

Um século depois, no século XVIII, foi formada uma sociedade secreta chamada Irlandeses Unidos, que lutava pela independência da Irlanda. A base econômica da região era essencialmente agrária e após ter sofrido uma praga na colheita seguida de uma epidemia de tifo que deixou 800.000 mortos, a insatisfação e o descontentamento aumentaram, levando à uma imigração maciça, especialmente para o Canadá e os Estados Unidos.

Em 1905, foi fundado o partido nacionalista católico Sinn Fein, que logo conquistou grande apoio popular. Esse apoio se torna evidente em 1918, quando o Sinn Fein consegue eleger dezoito deputados para o parlamento irlandês. Em 1916 reúnem-se os primeiros grupos católicos para lutar pela independência da Irlanda. Em 1919 é criado o IRA (Irish Republican Army), grupo terrorista católico cujo objetivo é libertar a Irlanda do Norte do domínio britânico através de ações terroristas.

A Irlanda dividida


Os militantes do IRA são sobretudo jovens, recrutados nas ruas e nas escolas. São escolhidos preferencialmente entre as classes mais baixas. A partir do recrutamento, são treinados em táticas de guerrilha urbana. Em 1919, o grupo proclamou a independência da Irlanda fazendo surgir o Estado Livre da Irlanda, atual República da Irlanda, onde predomina o catolicismo. A Irlanda do Norte continuaria fazendo parte do Reino Unido e, portanto, adotaria a religião protestante como religião oficial. Após esse ato ocorreu o que ficou conhecido como "guerra da independência", quando o IRA travou uma guerra de guerrilha contra as forças britânicas, entre 1919 e 1921.


Grupo de combatentes do IRA em 1920

A Irlanda dividida


Em dezembro de 1921 foi assinado um tratado de paz entre as autoridades irlandesas e britânicas. Apesar de finalmente a independência ter sido concedida à Irlanda, o teor do tratado dividiu a opinião pública e política. A questão foi a divisão que se estabeleceu em 1922 em Irlanda do Norte (6 condados) e Estado Livre Irlandês (26 condados). A Irlanda do Norte continuaria fazendo parte do Reino Unido e, portanto, adotaria a religião protestante como religião oficial. Confira a baixo, o mapa da Irlanda dividida, geográfica e ideologicamente. A divisão geográfica se tornou também a divisão entre católicos e protestantes.

A Irlanda dividida



Em 31 de janeiro de 1972, tem lugar, na Irlanda do Norte, o Domingo Sangrento, onde mais de dez jovens foram assassinados numa manifestação conduzida pelo IRA.

A manifestação contra a lei que permitia que qualquer pessoa acusada de terrorismo fosse presa, mesmo sem provas de culpa, acabou se tornando um ato de violência que até hoje possui diversas versões. Por um lado, o exército britânico acusou o IRA de disparar os primeiros tiros na manifestação. Por sua vez, porta-vozes do IRA disseram estar apenas se defendendo da violência dos soldados britânicos.

Terrorismo


O episódio inspirou a música "Sunday, bloody Sunday" (em português: Domingo, sangrento domingo) do grupo irlandês U2. Nesta canção, uma das músicas pop mais conhecidas dos anos 90, a banda revela sua indignação pelos acontecimentos de 31 de janeiro, mostrando também seu repudio à violência.

Veja, ao lado, poster do IRA que traz um trecho da Declaração de Independência da Irlanda.


"Nós proclamamos por este meio a república irlandesa como um estado independente e nós prometemos nossas vidas e as vidas de nossos camaradas à causa de sua liberdade, de seu bem-estar e de sua exaltação entre as nações."

Terrorismo


Os principais alvos do IRA são alvos públicos, como repartições oficiais e meios de transporte. Sua política é enviar um aviso às autoridades, informando o atentado e evitando aumentar as baixas entre os civis. Em 2005, uma série de atentados atribuídos ao IRA assolou Londres, a capital da Inglaterra, mas o envolvimento do grupo terrorista na ação nunca foi comprovado.

Como outros grupos terroristas contemporâneos, o IRA luta por uma causa pública, neste caso, a independência e a unificação da Irlanda. Entretanto, seus métodos violentos que incluem sequestros e explosões que, frequentemente atingem inocentes acabam por deteriorar a legitimidade de suas reivindicações. O saldo da ação do IRA na Irlanda é de mais de três mil mortos.


Mural Protestante na Irlanda do Norte, repudiando os atentados do IRA.

A paz possível


As primeiras negociações de paz entre o IRA e o governo inglês acontecerem em 1991. Entretanto, a exclusão do Sinn Fein, o partido irlandês considerado o braço político do IRA, fez com que as negociações fracassassem.

Em 1998, o primeiro-ministro inglês Tony Blair aceitou conceder uma maior autonomia à Irlanda do Norte. Entretanto, os conflitos entre católicos e protestantes continuou e o atentado de Londres em 2005 marcou a ineficiência da política inglesa na administração da região. Mas o atentado de Londres marca também o início do cessar armas proposto pelo próprio IRA. Entre julho e setembro de 2005 é realizado o processo de desarmamento orientado pela Comissão Internacional de Desarmamento.

Apesar dessas iniciativas, os conflitos entre católicos e protestantes continuam existindo e a Irlanda continua sendo um país dividido. Cabe agora esperar que as políticas de paz empreendidas por instituições como a ONU consigam minimizar estas diferenças.

Entrega de armas pelo IRA inicia os acordos de paz na Irlanda.

A paz possível


O conflito irlandês não pode ser caracterizado apenas como uma questão religiosa entre católicos e protestantes. Para entendê-lo, temos que considerar não só a história da Irlanda, mas a luta continua pela liberdade e independência, que busca preservar também suas tradições e a cultura.

O uso da violência em nome de causas políticas, ideológicas, religiosas, de Estado, nacionalistas, étnicas ou de qualquer natureza tem nos mostrado capítulos infelizes da História. Sejam provenientes de ideologias de direita ou de esquerda, a intolerância que atos como estes demonstram ceifam milhares de vidas ou, intimidam inúmeras outras.

A ação ou a reação contra terroristas também tem causado sérias violações aos direitos humanos e a democracia no mundo.

Menina passa em frente a um muro com pichação do IRA

Atividades


Marque no mapa abaixo a região de atuação do IRA:

Atividades


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